Meditação do Evangelho – Natal do Senhor e reflexão sobre a mensagem de Garabandal
Viver Garabandal: Acolhamos o Menino Jesus!
Louvor a Deus +
Queridos irmãos, espero que estejam bem!
Como sabemos, em algumas aparições em Garabandal, "Nossa Mãe" trazia o Menino Jesus em seus braços. O que será que Ela tem a nos ensinar? É verdade que Ela nunca disse nada a respeito disso; porém, em sua atitude está a resposta: "ela quer que acolhamos Jesus". No Natal, muitos pensam que basta "abrir presentes"; porém, o que "Nossa Mãe" deseja é que "abramos o coração" para o Senhor que vem ao nosso encontro.
Segundo as videntes de Garabandal, às vezes "Nossa Mãe" aparecia com o Menino Jesus; segundo elas "bem bebezinho, ainda, como um recém-nascido. Tem o rostinho redondo, da mesma cor que o da Mãe, uma boquinha pequena, cabelinho louro um tanto comprido e uma roupa em forma de túnica azul".
A leitura que ouvimos na Santa Missa da Aurora de Natal, tirada da Carta do Apóstolo São Paulo a Tito, começa solenemente com a palavra «apparuit», - manifestou-se. Esta é uma palavra programática, escolhida pela Igreja para exprimir, resumidamente, a essência do Natal.
Antes, os homens tinham falado e criado imagens humanas de Deus, das mais variadas formas; e, também, o próprio Deus falara de diversos modos aos homens (cf. Heb 1, 1). Agora, porém, aconteceu algo mais: Ele manifestou-Se, mostrou-Se, saiu da luz inacessível em que habita. Ele, em Pessoa, veio para o meio de nós. Na Igreja antiga, esta era a grande alegria do Natal: Deus manifestou-Se. Já não é apenas uma ideia, nem algo que se há de intuir a partir das palavras. Ele «manifestou-Se», se Deus a conhecer, veio ao nosso encontro.
Mas agora perguntamo-nos: Como Se manifestou? Ele verdadeiramente quem é? A este respeito, diz a leitura da Missa da Aurora: «Manifestaram-se a bondade de Deus (...) e o seu amor pelos homens» (Tt 3, 4). Para os homens do tempo pré-cristão - que, vendo os horrores e as contradições do mundo, temiam que o próprio Deus não fosse totalmente bom, mas pudesse, sem dúvida, ser também cruel e arbitrário -, esta era uma verdadeira «epifania», a grande luz que se nos manifestou: Deus é pura bondade.
Deus não está longe de nós, mas muito perto. No Natal, celebramos o fato de que Deus se fez homem por amor a nós, para nos salvar. Como "Nossa Mãe" queria aproximar as meninas de Garabandal de Jesus, era necessário que ela trouxesse o Menino. Elas disseram que quando Ela veio com Ele, Ela estava sempre sorrindo, contente, feliz. Quando o trouxe, falaram de coisas como meninas e, em mais de uma ocasião, seguraram o Menino Jesus nos braços. Em uma dessas ocasiões, tendo Loli, a Divina Criança, em seus braços, ela disse à Virgem: "Se quiser, agora a Senhora pode ir, eu cuidarei bem de Dele". Nossa Senhora também quer deixar-nos neste Natal o Menino Jesus para que possamos recebê-lo em nossos corações. Mas, como?
Ainda hoje há pessoas que, não conseguindo reconhecer a Deus na fé, se interrogam se a Força última que segura e sustenta o mundo seja verdadeiramente boa, ou então se o mal não seja tão poderoso e primordial como o bem e a beleza que, por breves instantes luminosos, se nos deparam no nosso cosmos. «Manifestaram-se a bondade de Deus (...) e o seu amor pelos homens»: eis a certeza nova e consoladora que nos é dada no Natal: o Bom Deus nos ama, quer ser um de nós, quer estar conosco! E, agora, quer estar dentro de nós, por meio da Sagrada Comunhão. Quis nos criar como transbordamento do Seu Amor; quis ser um de nós, para caminhar ao nosso lado e nos conduzir; quis morrer por nós, para que não nos esqueçamos jamais da intensidade do Seu Divino Amor e, por fim, quis se tornar Eucaristia, para viver dentro de nós. Quando grande é o Amor Misericordioso de Deus, não é?
Deus manifestou-Se... como menino. Natal é epifania: a manifestação de Deus e da sua grande luz num menino que nasceu para nós. Nascido no estábulo de Belém, não nos palácios do rei. Em 1223, quando Francisco de Assis celebrou em Greccio o Natal com um boi, um jumento e uma manjedoura cheia de feno, tornou-se visível uma nova dimensão do mistério do Natal. Francisco de Assis designou o Natal como «a festa das festas» - mais do que todas as outras solenidades - e celebrou-a com «solicitude inefável» (2 Celano, 199: Fontes Franciscanas, 787). Beijava, com grande devoção, as imagens do menino e balbuciava-lhes palavras de ternura como se faz com os meninos - refere Tomás de Celano.
Para a Igreja antiga, a festa das festas era a Páscoa: na ressurreição, Cristo arrombara as portas da morte, e assim mudou radicalmente o mundo: criara para o homem um lugar no próprio Deus. Pois bem! Francisco não mudou, nem quis mudar, esta hierarquia objetiva das festas, a estrutura interior da fé com o seu centro no mistério pascal. Mas, graças a Francisco e ao seu modo de crer, aconteceu algo de novo: ele descobriu, numa profundidade totalmente nova, a humanidade de Jesus. Este fato de Deus ser homem resultou-lhe evidente ao máximo, no momento em que o Filho de Deus, nascido da Virgem Maria, foi envolvido em panos e colocado numa manjedoura.
A ressurreição pressupõe a encarnação. O Filho de Deus visto como menino, como verdadeiro filho de homem: isto tocou profundamente o coração do Santo de Assis, transformando a fé em amor. «Manifestaram-se a bondade de Deus e o seu amor pelos homens»: esta frase de São Paulo adquiria assim uma profundidade totalmente nova. No menino do estábulo de Belém, pode-se, por assim dizer, tocar Deus e acarinhá-Lo. E o Ano Litúrgico ganhou assim um segundo centro numa festa que é, antes de mais nada, uma festa do coração.
Tudo isto não tem nada de sentimentalismo. É precisamente na nova experiência da realidade da humanidade de Jesus que se revela o grande mistério da fé. Francisco amava Jesus menino, porque, neste ser menino, tornou-se-lhe clara a humildade de Deus. Deus tornou-Se pobre. O seu Filho nasceu na pobreza do estábulo. No menino Jesus, Deus fez-Se dependente, necessitado do amor de pessoas humanas, reduzido à condição de pedir o seu, o nosso, amor. Hoje, o Natal tornou-se uma festa dos negócios, cujo fulgor ofuscante esconde o mistério da humildade de Deus, que nos convida à humildade e à simplicidade. Peçamos ao Senhor que nos ajude a alongar o olhar para além das fachadas lampejantes deste tempo a fim de podermos encontrar o menino no estábulo de Belém e, assim, descobrimos a autêntica alegria e a verdadeira luz.
São Francisco de Assis fazia celebrar a Santíssima Eucaristia, sobre a manjedoura que estava colocada entre o boi e o jumento (cf. 1 Celano, 85: Fontes, 469). Depois, sobre esta manjedoura, construiu-se um altar para que, onde outrora os animais comeram o feno, os homens pudessem agora receber, para a salvação da alma e do corpo, a carne do Cordeiro imaculado - Jesus Cristo -, como narra Celano (cf. 1 Celano, 87: Fontes, 471).
Na Noite santa de Greccio, Francisco - como diácono que era - cantara, pessoalmente e com voz sonora, o Evangelho do Natal. E toda a celebração parecia uma exultação contínua de alegria, graças aos magníficos cânticos natalícios dos Frades (cf. 1 Celano, 85 e 86: Fontes, 469 e 470). Era precisamente o encontro com a humildade de Deus que se transformava em júbilo: a sua bondade gera a verdadeira festa.
Em uma ocasião em que a Virgem Maria não vinha com o Menino Jesus há um tempo, ouviu-se Conchita dizer: "Mas há quanto tempo não vem com o bebê... E ele não engordou nada, nada... É exatamente o mesmo que era... Onde esteve? Quando o bebê não está vindo, onde ele está, no céu ou em algum berço?" A presença materna de "Nossa Mãe" e a presença do Menino Jesus, convidaram as meninas a lidar com eles com uma simplicidade e confiança que nós, embora mais velhos, devemos imitar. No Natal, quando contemplamos Deus feito neném para nós, é-nos dada a oportunidade não só de recordar o grande amor de Deus, mas também de nos tornarmos novamente crianças no sentido da infância espiritual, isto é, de fazer em virtude o que uma criança faz por natureza, que é: acima de tudo, a confiança e o abandono; o exercício diário de sermos "pequenos".
Hoje, quem entra na igreja da Natividade de Jesus em Belém dá-se conta de que o portal de outrora com cinco metros e meio de altura, por onde entravam no edifício os imperadores e os califas, foi em grande parte tapado, tendo ficado apenas uma entrada com um metro e meio de altura. Provavelmente isso foi feito com a intenção de proteger melhor a igreja contra eventuais assaltos, mas sobretudo para evitar que se entrasse a cavalo na casa de Deus. Quem deseja entrar no lugar do nascimento de Jesus deve inclinar-se. Nisto se encerra uma verdade mais profunda, pela qual nos queremos deixar tocar nesta noite santa: se quisermos encontrar Deus manifestado como menino, então devemos descer do cavalo da nossa razão «iluminada», do nosso orgulho, da nossa vaidade de prepotência. Devemos depor as nossas falsas certezas, a nossa soberba intelectual, que nos impede de perceber a proximidade de Deus.
Devemos seguir o caminho interior de São Francisco: o caminho rumo àquela extrema simplicidade exterior e interior que torna o coração capaz de ver. Devemos inclinar-nos, caminhar espiritualmente por assim dizer a pé, para podermos entrar pelo portal da fé e encontrar o Deus que é diverso dos nossos preconceitos e das nossas opiniões: o Deus que Se esconde na humildade dum menino acabado de nascer.
Celebremos assim a liturgia desta Noite santa, renunciando a fixarmo-nos no que é material, mensurável e palpável. Deixemo-nos fazer simples por aquele Deus que Se manifesta ao coração que se tornou simples. E nesta hora rezemos também e sobretudo por todos aqueles que são obrigados a viver o Natal na pobreza, no sofrimento, na condição de emigrante, pedindo que se lhes manifeste a bondade de Deus no seu esplendor, que nos toque a todos, a eles e a nós, aquela bondade que Deus quis, com o nascimento de seu Filho no estábulo, trazer ao mundo.
Conchita nos diz: "Como gostávamos de fazer festas para o Menino Jesus, pegávamos pedras. Coloquei-as nas tranças, Loli, nas mangas e Jacinta deu-lhes a Ele, mas ele não as levou, mas sorriu muito. Mari Cruz disse-lhe: "Eu, se quiseres, dou-lhe doces que me foram trazidos e, se vieres comigo, dar-te-ei a ti". E nós, o que podemos dar ao Menino Jesus nesse dia Santo do Natal do Senhor? Sem dúvida, o melhor presente é o nosso coração, um coração limpo, puro e aberto.
E então, vamos viver Garabandal?
Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!
Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,
Pe. Viana
Colaborador do Apostolado de Garabandal em língua portuguesa, Brasil e Portugal
Dezembro 2022