Meditação do Evangelho – 6º Domingo do Tempo Comum e reflexão sobre a mensagem de Garabandal
Viver Garabandal: Garabandal e os Mandamentos
Louvor a Deus +
Queridos irmãos, espero que estejam bem!
Com a Igreja, estamos celebrando o Sexto Domingo do Tempo Comum. Hoje, Nosso Senhor nos fala sobre a importância da "Lei", ou seja, dos Mandamentos que, para a Tradição da Igreja, tem "uma importância e um significado primordiais" (Catecismo da Igreja Católica, 2064). Mas, que sentido têm essas Dez Palavras para nós, no atual contexto cultural, em que o secularismo e o relativismo correm o risco de se tornarem os critérios de toda escolha e nesta nossa sociedade que parece viver como se Deus não existisse?
Em primeiro lugar, devemos entender que os Mandamentos não são "qualquer coisa", mas um presente! Constituem um dom do próprio Deus e de Sua santa vontade. "Ao dar a conhecer Sua vontade, Deus se revela a seu povo" (Catecismo da Igreja Católica, 2059).
A vida cristã é antes de tudo a resposta grata a um Pai generoso. Os cristãos que seguem apenas "deveres" denunciam que não têm uma experiência pessoal daquele Deus que é "nosso". Devo fazer isto, isso, aquilo... Somente deveres. Mas falta-te algo! Falta o amor! Qual é o fundamento deste dever? O fundamento deste dever é o amor de Deus Pai, que primeiro dá, depois manda. Colocar a lei antes da relação não ajuda o caminho de fé. Como pode um jovem desejar ser cristão, se nós começamos pelas obrigações, compromissos, coerências, e não pela libertação? Mas ser cristão é um caminho de libertação! Os mandamentos libertam-te do teu egoísmo, e libertam-te porque há o amor de Deus que te faz ir em frente.
A formação cristã não está baseada, em primeiro lugar, na força de vontade, mas no acolhimento da salvação, no deixar-se amar: primeiro o Mar Vermelho, depois o Monte Sinai. Primeiro a salvação: Deus salva o seu povo no Mar Vermelho; depois, no Sinai diz-lhe que deve fazer. Mas aquele povo sabe que Ele faz tais gestos porque foi salvo por um Pai que o ama e, quanto mais reconhecemos o amor, a bondade e a ternura de Deus para conosco, mais queremos também amá-Lo, cumprindo a Sua vontade.
O saudoso papa Bento XVI dizia que "a gratidão é um traço caraterístico do coração visitado pelo Espírito Santo; para obedecer a Deus é preciso, antes de tudo, recordar os seus benefícios". São Basílio diz: "Quem não deixa que tais benefícios caiam no esquecimento, orienta-se para a boa virtude e para todas as obras de justiça" (Regras breves, 56). Onde nos leva tudo isto? A fazer exercício de memória: quantas maravilhas fez Deus por cada um de nós! Como é generoso o nosso Pai celestial!
Além disso, não podemos nos esquecer de que, para entrarmos no céu, precisamos obedecer aos Mandamentos, porque o próprio Jesus nos recorda isso (cf. Mt. 19, 16-19). Cumprir os Mandamentos é ter a certeza da Vida Eterna e, além disso, é expressão concreta do nosso amor para com Deus.
Quando o homem ignora os Mandamentos, não somente se afasta de Deus, mas se afasta também da vida e da felicidade duradoura. O homem que se orgulha da própria autonomia absoluta acaba por seguir os ídolos do egoísmo, do poder, do domínio, poluindo as relações com si mesmo e com os outros, percorrendo os caminhos de morte, não de vida. As tristes experiência da História, sobretudo do século passado, permanecem uma advertência para toda a humanidade que, infelizmente, insiste em afastar-se de Deus.
O Catecismo nos recorda que Deus estabelece os Mandamentos em virtude da Aliança que Ele faz com o seu povo e, de modo particular, diante da decisão do povo de obedecer a Deus; assim, os Mandamentos exprimem "as implicações da pertença a Deus" (2062) e, cumpri-los é, como já dissemos, uma reposta "à iniciativa amorosa do Senhor. É reconhecimento, homenagem a Deus e culto de ação de graças. É cooperação com o plano que Deus executa na história" (Catecismo da Igreja Católica, 2062).
O Catecismo da Igreja Católica nos recorda que "o seguimento de Jesus Cristo inclui o cumprimento dos Mandamentos. A Lei não foi abolida, mas o homem é convidado a reencontrá-la na pessoa de seu Mestre, que é o cumprimento perfeito dela" (Catecismo da Igreja Católica, 2053). Os Mandamentos "exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para o próximo [...] revelam, em seu conteúdo primordial, obrigações graves. Eles são imutáveis, e sua obrigação vale sempre e em toda parte. Ninguém pode dispensar-se deles" (Catecismo da Igreja Católica, 2072).
Diferentemente do que podem pensar, os Mandamentos são palavras de Deus; que Ele revelou a Seu povo, no Monte Sagrado, escrevendo "com seu dedo" (cf. Ex.31,18; Dt. 5,22). Os Mandamentos estão intimamente ligados ao contexto da libertação do povo e, como nos ensina o Catecismo, "indicam as condições de uma vida liberta da escravidão do pecado", sendo assim, os Mandamentos constituem um "caminho de vida" (Catecismo da Igreja Católica, 2057) e um "caminho de salvação" (Lumen Gentium, 24).
Nosso mundo entende as regras como forma de repressão e, por isso, entende que elas nos fazem mal; ao contrário disso, os Mandamentos "enunciam as exigências do amor de Deus e do próximo" (Catecismo da Igreja Católica, 2067) e, portanto, constituem um "Itinerário do Amor" que tem o objetivo de ordenar o homem para o amor. Além disso, "ensinam a verdadeira humanidade do homem. Iluminam os deveres essenciais e, portanto, indiretamente, os direitos humanos fundamentais, inerentes à natureza da pessoa humana" (Catecismo da Igreja Católica, 2070).
Entender tudo isso é fundamental para que possamos compreender melhor as Mensagens de "Nossa Mãe", em Garabandal. Em sua primeira mensagem, em 18 de outubro de 1961, a Santíssima Virgem Maria diz que "a taça está a encher-se", ou seja, a humanidade tem se desviado dos Mandamentos da Lei de Deus e, como consequência, tem atraído o castigo de Deus sobre a humanidade.
Infelizmente, em nossos dias, vemos que a maior dificuldade da Igreja vem de dentro; afinal, são muitos aqueles que se dizem cristãos mas que não vivem de acordo com a fé e que não se importam mais com os Mandamentos da Lei de Deus; se olharmos para as nossas comunidades, veremos graves pecados que são tidos como normais: Deus é colocado em segundo lugar, as zombarias com as coisas sagradas, a banalização dos dias santos, a destruição da família, o adultério, a fornicação, a fofoca, o homicídio voluntário, a perda da pureza, os roubos, a falta de retidão e de honestidade, as mentiras, as fofocas, as calúnias, o erotismo, a sedução, a pornografia, a vivência do homossexualismo, a cobiça, o ciúme, etc., estão muito presentes em nossas comunidades e, em alguns casos, são vistos como comuns e normais.
Na prática, nos falta fé, nos falta amor a Deus e, como consequência, a humanidade "vai pecando, vai pecado, vai de horror em mais horror" e, com isso, a taça vai se enchendo e, como consequência de cada pecado, a ira de Deus vai sendo atraída sobre a humanidade; é por isso que, em Garabandal, "Nossa Mãe" diz que, "se não mudarmos, um grande castigo virá sobre nós"; ou outras palavras, se não cumprirmos os Mandamentos, se não vivermos de acordo com a Vontade Deus, um grande castigo virá sobre nós!
Somente os sacrifícios e a penitência, juntamente com a oração e sobretudo a adoração ao Santíssimo Sacramento hão de deter ou minorar as consequências deste caminhar em direção às trevas. Muitos sacrifícios, muita penitência, diz a mensagem de "Nossa Mãe". A gravidade é tanta que a nossa Mãe apela, a quem verdadeiramente a escuta e a amando-a estão dispostos a satisfazer os seus pedidos, a tomar consciência de que só uma vida penitente e oferecida, somente o esforço de viver os Mandamentos pode reverter a situação caótica em que vivemos.
Em seu segunda Mensagem, em 18 de junho de 1965, a Santíssima Virgem Maria, por meio do Arcanjo São Miguel, disse que "muitos cardeais, bispos e sacerdotes vão pelo caminho da perdição e com eles vão muitas almas", exatamente porque, especialmente em nossos dias, reina a ditadura do relativismo e, com isso, a Verdade da fé acaba sendo, em muitos lugares, esquecida; infelizmente, no intuito de agradar ao mundo e por causa da maldita política da boa vizinhança se adultera a fé para agradar e, com isso, a Igreja se torna, em muitos lugares, um grupo de pessoas "boazinhas", que fazem coisas "bem feitinhas" mas que, na prática, não se convertem, porque não vivem de acordo com os Mandamentos da Lei de Deus.
O saudoso papa Bento XVI, quando ainda era Cardeal, fez uma belíssima homilia, na abertura do Conclave que o elegeria como papa, dizendo: "Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas, lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao coletivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar "aqui e além por qualquer vento de doutrina", aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.
Ao contrário, nós, temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro humanismo. "Adulta" não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. Devemos amadurecer esta fé, para esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé só esta fé que gera unidade e se realiza na caridade. São Paulo oferece-nos a este propósito em contraste com as contínuas peripécias dos que são como crianças batidas pelas ondas uma bela palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, coincidem verdade e caridade. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, também na nossa vida, verdade e caridade fundem-se. A caridade sem verdade seria cega; a verdade sem caridade seria como "um címbalo que retine" (1 Cor 13, 1)."
Peçamos ao Bom Deus e à "Nossa Mãe", que nos ajudem a vivermos na Verdade da Fé, de acordo com os Mandamentos da Lei de Deus, para que possamos amá-Lo concretamente e para que possamos ser salvos. Ouçamos a doce voz de "Nossa Mãe" que nos chama ao arrependimento, à conversão e à fidelidade ao verdadeiro Magistério da Igreja.
E então, vamos viver Garabandal?
Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!
Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,
Pe. Viana