Meditação do Evangelho - 2º Domingo do Tempo Comum e reflexão sobre a mensagem de Garabandal
Viver Garabandal: Garabandal e a "consciência de pecado"!
Louvor a Deus +
Queridos irmãos, espero que estejam bem!
Obs.: de antemão, esclareço que a meditação de hoje parece ser um pouco cansativa demais; porém, entendo que seja extremamente necessária, especialmente em nossos dias, afinal, vivemos numa crise de fé e numa crise moral, que conduzem à perda do sentido de pecado e que, consequentemente, conduzem muitas almas à perdição.
No Evangelho de hoje, encontramos uma afirmação muito precisa, no que se refere ao ministério de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele veio para tirar o pecado do mundo, como afirma São João Batista. Como nos ensina o verdadeiro magistério da Igreja, o pecado "é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta. É uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana" (Catecismo da Igreja Católica, 1849).
Em Garabandal, sabemos que as aparições se iniciam diante de um "pecado", afinal, Conchita, Mari Loli, Mari Cruz e Jacinta, em um tarde de domingo, em 18 de junho de 1961, buscavam uma "pequena aventura", furtando algumas maças do pomar do professor da aldeia, que se situava no começo de um caminho íngreme e rochoso, que todos conhecem como "La Calleja" (A Viela); enquanto estão carregando as maças, escutam um grande trovão, que as faz estremecer; depois disso, a consciência começa a censurá-las e, arrependidas de suas travessuras, se lamentam do que fizeram; ou seja, elas tinham uma clara consciência sobre o pecado e, ao mesmo tempo, Garabandal é um conjunto de aparições que denunciam vivamos o pecado que, segundo da Igreja, é "uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna" (Catecismo da Igreja Católica, 1849).
Acontece que, como disse o amado papa Bento XVI, o "grande cooperador da Verdade", em 2008, "a ausência generalizada de uma consciência do pecado é um fenômeno perturbador do nosso tempo". Sobre isso, São João Paulo II, em sua Encíclica "Reconciliatio et paenitentia", de 02 de dezembro de 1984, apresenta algumas afirmações interessantíssimas e, ao mesmo tempo, muito atuais; que quero apresentar nessa meditação de hoje.
A partir do Evangelho lido na comunhão eclesial, a consciência cristã adquiriu, no decurso das gerações, uma fina sensibilidade e uma perspicaz percepção dos fermentos de morte que estão contidos no pecado; sensibilidade e capacidade de percepção, também para individuar tais fermentos nas mil formas assumidas pelo pecado, nos mil carizes com que ele se apresenta. É a isto que se costuma chamar o sentido do pecado.
Este sentido tem a sua raiz na consciência moral do homem e é como que o seu termómetro. Anda ligado ao sentido de Deus, uma vez que deriva da consciência da relação que o homem tem com o mesmo Deus, como seu Criador, Senhor e Pai. E assim como não se pode apagar completamente o sentido de Deus nem extinguir a consciência, também não se dissipa nunca inteiramente o sentido do pecado.
Entretanto, não raro no decurso da história, por períodos mais ou menos longos e sob o influxo de múltiplos fatores, acontece ficar gravemente obscurecida a consciência moral em muitos homens. «Temos nós uma ideia justa da consciência?» - perguntava eu há dois anos num colóquio com os fiéis - «Não vive o homem contemporâneo sob a ameaça de um eclipse da consciência, de uma deformação da consciência e de um entorpecimento ou duma "anestesia" das consciências?». Demasiados sinais indicam que no nosso tempo existe tal eclipse, tanto mais inquietante quanto esta consciência, definida pelo Concílio como «o núcleo mais secreto e o sacrário do homem», anda «estreitamente ligada à liberdade do homem (...). Por isso, a consciência, com relevância principal, está na base da dignidade interior do homem e ao mesmo tempo, da sua relação com Deus».
É inevitável, portanto, que nesta situação fique obnubilado também o sentido do pecado, o qual está intimamente ligado à consciência moral, à procura da verdade e à vontade de fazer um uso responsável da liberdade. Conjuntamente com a consciência, fica também obscurecido o sentido de Deus, e então, perdido este decisivo ponto de referência interior, desaparece o sentido do pecado. Foi este o motivo por que o meu Predecessor Pio XII, com palavras que se tornaram quase proverbiais, pôde declarar um dia que «o pecado do século é a perda do sentido do pecado».
Porquê este fenômeno no nosso tempo? Uma vista de olhos de alguns componentes da cultura contemporânea pode ajudar-nos a compreender a atenuação progressiva do sentido do pecado, exatamente por causa da crise da consciência e do sentido de Deus, acima realçada.
O «secularismo», que, pela sua própria natureza e definição, é um movimento de ideias e de costumes, o qual propugna um humanismo que abstrai de Deus totalmente, concentrado só no culto do empreender e do produzir e arrastado pela embriaguez do consumo e do prazer, sem preocupações com o perigo de «perder a própria alma», não pode deixar de minar o sentido do pecado. Reduzir-se-á este último, quando muito, àquilo que ofende o homem. Mas é precisamente aqui que se impõe a amarga experiência a que já aludia na minha primeira Encíclica; ou seja, que o homem pode construir um mundo sem Deus, mas esse mundo acabará por voltar-se contra o mesmo homem (e é o que já estamos experimentando!). Na realidade, Deus é a origem e o fim supremo do homem e este leva consigo um gérmen divino.
Desvanece-se este sentido do pecado na sociedade contemporânea também pelos equívocos em que se cai ao apreender certos resultados das ciências humanas. Com base nalgumas afirmações da psicologia, a preocupação de não tachar alguém como culpado nem pôr freio à liberdade leva a nunca reconhecer uma falta. Por indevida extrapolação dos critérios da ciência sociológica acaba-se - como já aludi - por descarregar sobre a sociedade todas as culpas, de que o indivíduo é declarado inocente. E uma certa antropologia cultural, por seu lado, à força de aumentar os condicionamentos e influxos ambientais e históricos, aliás inegáveis, que agem sobre o homem, limita-lhe tanto a responsabilidade que não lhe reconhece já a capacidade de fazer verdadeiros atos humanos e, por consequência, a possibilidade de pecar.
O sentido do pecado decai facilmente, ainda, sob a influência de uma ética que deriva dum certo relativismo historicista. Pode tratar-se da ética que relativiza a norma moral, negando o seu valor absoluto e incondicionado e negando, por consequência, que possam existir atos intrinsecamente ilícitos, independentemente das circunstâncias em que são realizados pelo sujeito. Trata-se de uma verdadeira «reviravolta e derrocada dos valores morais».
A perda do sentido do pecado, portanto, é uma forma ou um fruto da negação de Deus: não só da negação ateísta, mas também da negação secularista. Se o pecado é a interrupção da relação filial com Deus para levar a própria existência fora da obediência a ele devida, então, pecar não é só negar Deus; pecar é, também, viver como se ele não existisse, bani-lo do próprio cotidiano.
Até mesmo no campo do pensamento e da vida eclesial, algumas tendências favorecem inevitavelmente o declínio do sentido do pecado. Alguns, por exemplo, tendem a substituir posições exageradas do passado por outros exageros; assim, da atitude de ver o pecado em toda a parte, passa-se a não o vislumbrar em lado nenhum; da demasiada acentuação do temor das penas eternas, à pregação dum amor de Deus, que excluiria toda e qualquer pena merecida pelo pecado; da severidade no esforço para corrigir as consciências erróneas, a um pretenso respeito pela consciência, até suprimir o dever de dizer a verdade. E por que não acrescentar que a confusão criada na consciência de muitos fiéis pelas divergências de opiniões e de ensinamentos na teologia, na pregação, na catequese e na direção espiritual, acerca de questões graves e delicadas da moral cristã, acaba por fazer diminuir, quase até à sua extinção, o verdadeiro sentido do pecado?"
Quais são então as razões para isso? A razão mais óbvia é a nossa sociedade materialista, que hoje tende a fazer com que muitas pessoas esqueçam as coisas de Deus, ignorando o fato de que "o homem não vive só de pão". No entanto, existem outras razões. Primeiro, a mais gritante delas é a falsa catequese que começou depois do Concílio Vaticano II - embora não por causa dele.
Há numerosos novos métodos de ensino, que deixam de fora qualquer menção do pecado como uma ofensa contra Deus. Dizem-nos simplesmente que não ofendamos o amor, mas o conceito de amor que aprendemos é tão abstrato, tão espiritualizado que não vemos como o amor e a vida moral estão relacionados. Por causa dessa má catequese, muitos não conseguem ver como o Decálogo e as Bem-aventuranças, por exemplo, são manifestações do amor verdadeiro. Esta é uma maneira de esses novos ensinamentos darem origem a um cristianismo sem Cruz, pautado apenas nos prazeres, nas satisfações e nos desejos humanos e, com isso, a conversão não existe.
Depois, isto conduziu a uma religião diluída sem obrigações, sem ascese, sem busca de conversão, mas apenas com sentimentos e emoções. O resultado deste diluído ensinamento da fé tem sido, por vezes, criar uma situação em que já não se pode perder a fé, pela simples razão de que as crianças e os jovens já não têm nada para perderem e, infelizmente, nada a que volverem: eles foram eficazmente vacinados contra a verdadeira visão da fé.
Muitas vezes se tem confundido os fiéis com meias-verdades, tais como declarações de que não há necessidade de ir à confissão, exceto uma vez por ano, e somente se se tiver cometido um pecado mortal; além disso, com a relativização do pecado, ele tem se tornado "normal" e, além disso, se tornado como um "animalzinho de estimação", afinal, muitos mantém pecado há muitos anos e, além disso, "acham bonito" pecar.
Sabemos que, na opinião dos moralistas liberais, o pecado não é muito grave, "porque Deus é amor" e, por isso, eles dizem que não há necessidade de ir à confissão. Nos últimos anos tem havido um declínio nos sermões sobre o pecado, sobre a necessidade da conversão e sobre a importância da confissão frequente, ainda que o Magistério da Igreja tenha repetidamente sublinhado a importância da confissão frequente, mesmo que seja dos pecados veniais. Qualquer renovação Igreja, que deixe de fora a consciência do pecado, a busca da conversão, o sacramento da misericórdia e do perdão de Deus, é como colocar papel nas fendas: a aparência externa é boa, mas os problemas subjacentes permanecem; é a velha história dos "sepulcros caiados", que são brancos por fora e podres por dentro.
O Papa São João XXIII disse que, desde a idade dos onze anos, ele ia à confissão semanal e que mesmo com 80 anos, e sendo Papa, ainda continuou com essa prática. Em Sacerdotii Nostri Primordia, ele declarou: "Nós condenamos a teoria de que a confissão frequente dos pecados veniais não é uma prática para ser muito valorizada. Pelo contrário, para um progresso rápido na virtude, é altamente recomendável a prática piedosa da confissão frequente, introduzida na Igreja sob a orientação do Espírito Santo".
O Papa Sãoo Paulo VI, também escreveu: "O recurso frequente e reverente a este sacramento, mesmo quando apenas há pecados veniais, é de grande valor", enquanto São João Paulo II, num discurso aos bispos do Canadá, falou da "grande eficácia sobrenatural de um perseverante ministério exercido através da confissão auricular... assegurando ao nosso povo os grandes benefícios derivados da confissão frequente". Finalmente, em 7 de Março de 2006, o amado Papa Bento XVI, num discurso sobre questões de consciência, disse: "Se, além disso, mesmo quando se está motivado pelo desejo de seguir a Jesus, não se vai regularmente à confissão, arrisca-se gradualmente a afrouxar o seu ritmo espiritual, ao ponto de cada vez aumentar o enfraquecimento e, finalmente, talvez até esgotá-lo".
Mas, o que fazer diante dessa grande confusão que, na verdade, é reflexo de uma crise de Fé?
O remédio mais fundamental é a restauração do sentido do pecado, que só se pode conseguir voltando a enfatizar que o pecado é uma ofensa contra Deus, como afirma o verdadeiro Magistério da Igreja, no parágrafo 1850 do Catecismo da Igreja Católica; afinal, "o pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós, e desvia Dele os nossos corações". Assim,restabelecer o justo sentido do pecado é a primeira forma de combater a grave crise espiritual que impende sobre o homem do nosso tempo. Mas o sentido do pecado só se restabelecerá com uma chamada a atenção clara para os inderrogáveis princípios de razão e de fé, que a doutrina moral da Igreja sempre sustentou.
Sabemos que esta "restauração" requer uma adequada catequese em sermões, homilias e pastorais - assim como nas escolas e na família - sobre a Paixão e sobre os sofrimentos do nosso Divino Salvador. São Pedro apresenta isso desta maneira: "Ele próprio carregou os nossos pecados no seu corpo na cruz, para que, livres do pecado, pudéssemos viver para a justiça" (cf. 1Pd. 2, 24). São Paulo - que tinha perseguido a Igreja de Deus e, depois, escutado a voz de Nosso Senhor no caminho para Damasco, que dizia: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (cf. At. 9, 4) - veio a compreender plenamente o significado da misericórdia e do amor de Cristo. Ele só pôde gritar: "Eu vivo agora, não eu, mas Cristo vive em mim... Eu vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (cf. Gl. 2, 20). Esta catequese deve começar principalmente em casa. Às crianças pode-se dizer que o pecado fere Jesus, porque o Catecismo da Igreja Católica, citando Santo Agostinho, nos ensina que "o pecado é, portanto, amor de si mesmo até o desprezo de Deus" (n° 1850).
Nesse processo catequético, em busca a uma fidelidade maior ao Magistério verdadeiro da Igreja, é bom dar a cada criança um pequeno crucifixo, que elas podem beijar ao levantarem-se de manhã e ao irem para a cama à noite. A ideia do sacrifício devia ser incentivada como um ato de amor por Jesus e também de reparação, exatamente como Nossa Mãe fez em Garabandal, ao ensinar às videntes sobre a importância das penitências e dos sacrifícios e, como "fonte" de tudo isso, deviam "pensar na Paixão de Jesus" (Mensagem de 18 de junho de 1965).
Além disso, deve haver um aumento de ênfase nas catequeses, homilias, sermões e em todo o trabalho pastoral, sobre os quatro novíssimos: morte, juízo, céu e inferno que, infelizmente, já não é mais crido por grande parte das pessoas, até mesmo por pessoas de dentro da própria Igreja. O inferno é uma possibilidade para cada um de nós se morrermos impenitentes e se vivermos no pecado, e a morte pode chegar quando menos se espera.
E então, vamos viver Garabandal?
Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!
Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,
Pe. Viana
Pe. Viana, é responsável de uma paróquia do estado de S. Paulo, e é colaborador com o Apostolado de Garabandal em língua portuguesa.
Janeiro de 2023