Garabandal e a “nossa subida ao céu”

21-05-2023

Louvor a Deus +

Queridos irmãos, espero que estejam bem!

Celebramos, neste final de semana, a Solenidade da Ascensão do Senhor. Uma vez mais, a liturgia põe diante dos nossos olhos o último dos mistérios da vida de Jesus Cristo entre os homens: a sua Ascensão aos céus. Desde o seu Nascimento em Belém, muitas coisas aconteceram: encontramo-lo no berço, adorado por pastores e por reis; contemplamo-lo nos longos anos de trabalho silencioso, em Nazaré; acompanhamo-lo pelas terras da Palestina, pregando aos homens o reino de Deus e fazendo o bem a todos. E, mais tarde, nos dias da sua Paixão, sofremos ao presenciar como o acusavam, com que fúria o maltratavam, com quanto ódio o crucificavam.

À dor seguiu-se a alegria luminosa da Ressurreição. Que fundamento tão claro e tão firme para a nossa fé! Não deveríamos continuar duvidando. Mas talvez ainda sejamos fracos, como os Apóstolos, e perguntemos a Cristo neste dia da Ascensão: É agora que vais restaurar o reino de Israel?; é agora que vão desaparecer definitivamente todas as nossas perplexidades e todas as nossas misérias? É agora que vais resolver todos os nossos problemas? Que vais tirar todos os obstáculos? É agora que vais nos dar um vida fácil, cheia de prazeres e de satisfações?

O Senhor responde-nos subindo aos céus, afinal, o que buscamos nesta terra, só encontraremos no céu. Tal como os Apóstolos, ficamos meio admirados, meio tristes ao ver que nos deixa. Na realidade, não é fácil acostumarmo-nos à ausência física de Jesus. Comove-me recordar que Jesus, num gesto magnífico de amor, foi-se embora e ficou; foi para o céu e entrega-se a nós como alimento na Hóstia Santa. Sentimos, no entanto, a falta da sua palavra humana, da sua forma de atuar, de olhar, de sorrir, de fazer o bem. Gostaríamos de voltar a vê-lo de perto, quando se senta à beira do poço, cansado da dura caminhada, quando chora por Lázaro, quando se recolhe em prolongada oração, quando se compadece da multidão.

A Ascensão de Jesus dá a entender num primeiro momento sua ausência física do meio de nós. Como se tivesse feito seu dever e sumisse. Primeira impressão que conduz ao erro. Ele mesmo afirmou: "Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo". Ele está conosco pela Igreja que fundou, sendo ela a guardiã e intérprete de tudo o que ensinou. A Igreja é o seu corpo e nós, os batizados os membros deste corpo. Um corpo vivo cuja cabeça invisível é o próprio Cristo, enquanto a cabeça visível é o Papa, Assim, temos um corpo inteiro formado pela cabeça, corpo e membros. Este corpo místico existe no tempo e no espaço, não está limitado a uma única cultura ou língua. Este corpo é universal e seus membros devem ser formados por todos os povos. O termo "todos os povos" exclui qualquer possibilidade de escolha, preferência ou segregação. Somos então uma grande congregação composta por batizados com cultura, língua e costumes diferentes. Somos o povo de Deus, somos a família cristã.

A presença do Cristo Senhor se perpetua na Eucaristia que celebramos e comungamos, nos outros seis sacramentos por Ele instituídos, na Palavra que ouvimos e ensinamos, nos irmãos reunidos em seu nome e naqueles que acolhemos e cuidamos. Ainda assim, como pode ter subido para o céu e continuar conosco até o fim dos tempos? A resposta é a mesma daquela pergunta do Catecismo: Onde está Deus? "no céu, na terra e em toda a parte". Cremos no Cristo que é Deus Filho e Senhor. Cristo sendo Deus tem o atributo de ser onipresente, entre outros tantos como onisciente, onipotente, espírito puríssimo, perfeitíssimo e transcendental.

"O Concilio do Vaticano II afirmou que a Igreja de Cristo subsiste na Católica. Quis assim dizer que todos os meios de salvação se encontram na Igreja Católica. Fora desta, porém, o Concílio reconhece haver elementos da Igreja, como são a leitura da Bíblia, o martírio, a oração… são dons de Deus que conduzem para a unidade católica; as comunidades que cultivam tais dons, se acham em comunhão imperfeita com a Igreja Católica e, por isto, pode-se afirmar que estão contidas no conceito de Igreja entendida em sentido amplo". Na conclusão ainda escreveu: "É nítida a intenção, dos conciliares, de excluir o relativismo religioso sem deixar de mencionar o que há de cristão nas comunidades cristãs não católicas. Esta referência tem em vista facilitar o diálogo ecumênico e dissipar preconceitos que dificultam a aproximação dos cristãos entre si.".

Jesus subiu aos céus, dizíamos. Mas, pela oração e pela Eucaristia, o cristão pode ter com Ele a mesma intimidade que tinham os primeiros Doze, inflamar-se no seu zelo apostólico, para com Ele realizar um serviço de co-redenção, que é semear a paz e a alegria. Servir, portanto, porque o apostolado não é outra coisa. Se contarmos exclusivamente com as nossas próprias forças, nada obteremos no terreno sobrenatural; se formos instrumentos de Deus, conseguiremos tudo: Tudo posso nAquele que me conforta. Por sua infinita bondade, Deus resolveu servir-se destes instrumentos ineptos. Daí que o apóstolo não tenha outro fim senão deixar agir o Senhor, mostrar-se inteiramente disponível, para que Deus realize - através das suas criaturas, através da alma escolhida - a sua obra salvadora.

Cristo subiu aos céus, mas transmitiu a tudo o que é humano e honesto a possibilidade concreta de ser redimido e santificado. São Gregório Magno aborda este grande tema cristão com palavras incisivas: Partia assim Jesus para o lugar de onde era e regressava do lugar em que continuava morando. Com efeito, no momento em que subia ao céu, unia com a sua divindade o céu e a terra. Na festa de hoje, devemos destacar solenemente o fato de ter sido suprimido o decreto que nos condenava, o juízo que nos submetia à corrupção. A natureza a que se dirigiam aquelas palavras: "Tu és pó e em pó te hás de tornar" (Gen. III, 19) -, essa mesma natureza subiu hoje ao céu com Cristo.

Podemos dizer, com certeza, que na "subida" de Cristo aos céus, nossa humanidade vai com Ele e, assim, há "um pouco de nós" na Trindade, afinal, fomos criados para viver nessa íntima união com o Pai, pelo Filho, na ação poderosa do Espírito Santo. A ascensão de Cristo, portanto, é nossa exaltação e para lá onde precedeu a glória da Cabeça, que é Cristo; é atraída também a esperança do Corpo, que somos nós.

Já que meditamos a Liturgia do Dia, vamos agora "casá-la" com a Mensagem de Garabandal. Sabemos que, infelizmente, nossa sociedade cada vez mais secularizada e secularizante, onde reinam o ateísmo e as falsas doutrinas. A Barca da Igreja tem sido atacada de todos os lados por doutrinas, ideologias e modas de pensamento e, com isso, em muitas ocasiões, acabou cedendo e permitindo a entrada do marxismo, do liberalismo, da libertinagem, do coletivismo radical, do ateísmo, do misticismo religioso, do agnosticismo, do sincretismo e de uma série de outros elementos perniciosos e contrários à Verdade da Fé.

Aquele que vem para matar, roubar e destruir, ou seja, o demônio, se aproveita desse ambiente, para usar da ignorância religiosa de muitos, para induzi-los ao erro, ao pecado e, assim, conduzi-los à perdição eterna. Alguns cristãos, nos quais ainda a verdadeira fé persiste, buscam as comunidades, na esperança de encontrar nelas um ambiente de fé, onde possam ser instruídos, catequizados e onde, de fato, possam encontrar Deus; porém, na grande maioria das vezes, encontram ambientes frios, sem acolhida, sem vida, sem virtudes; encontram comunidades com pregações vazias, cheias de emoções, secas de conteúdo doutrinário e, tristemente, muitas delas transformadas em "palcos" para shows ou para a disseminação de ideias contrárias à fé. Triste é a nossa realidade!

Mas, o que fazer diante disso? Primeiramente, devemos buscar ter uma fé clara, baseada no Credo da Igreja; recebemos a Fé da Igreja e devemos crer com Ela, ou seja, crer no que Ela crê. Em Garabandal, Nossa Mãe já nos alertava que muitos bispos, sacerdotes e fiéis iam pelo caminho da perdição, e é exatamente isso que vemos em nossos dias, um grande número de pessoas se perdendo e se corrompendo, porque se afastaram da verdadeira Fé; infelizmente, o relativismo entrou em nossa Igreja e parece ser, para alguns, a única atitude própria dos tempos hodiernos; com isso, vai se construindo a ditadura do relativismo, que nada reconhece de definitivo e que deixa, como última medida de todas as coisas, o próprio eu e as suas vontades. Se nossa sociedade tem tentado nos afastar de Deus, arrancá-lo de nossa presença e se, tristemente, muitas de nossas comunidades têm cooperado para isso, é preciso dar um basta, é preciso que nossas comunidades voltem a ser locais de ascensão, ou seja, locais onde, aos poucos, possamos "subir ao encontro do Senhor", onde sejamos envolvidos por Sua Divina Presença, até que Ele seja tudo em nós!

Para vencermos esse mal, precisamos conhecer as bases da fé católica, os fundamentos da nossa Doutrina, do verdadeiro ensino da Igreja. É necessário que nossos bispos sejam, de fato, os guardiões da fé e aqueles que nos confirmam na verdadeira doutrina dos apóstolos; é necessário que, em nossas paróquias, nossos padres anunciem integralmente a Palavra de Deus; afinal, como expressa o Código de Direito Canônico, eles devem cuidar para que os fiéis sejam instruídos nas verdades da fé, mediante a homilia e a instrução catequética. O Código de Direito Canônico ainda afirma que é dever próprio e grave, dos pastores de almas, cuidar da catequese do povo cristão, para que a fé dos fiéis, pelo ensino da doutrina e pela experiência da vida cristã, se torne viva, explícita e atuante. Por fim, se a verdadeira Fé for ensinada, se o verdadeiro Evangelho for pregado e se os fiéis forem instruído a partir de Cristo, que revela o homem ao próprio homem, seremos muito bons, como nos pede Nossa Mãe, em Garabandal.

Mas, que compromisso podemos assumir diante disso: primeiramente, devemos valorizar, rezar e defender os bons sacerdotes: aqueles que se esforçam para pregar a verdadeira Fé, para nos instruir com a verdadeira doutrina, para pregar o Evangelho genuíno. Depois, precisamos rezar, oferecer inúmeros sacrifícios e penitências por aqueles sacerdotes que se afastaram do verdadeiro Magistério, da verdadeira Igreja e que, quando falam, não usam a voz do Pastor, mas outras vozes. Por fim, precisamos sair dessa letargia e, se não nos dão a verdadeira catequese, a verdadeira pregação, o verdadeiro ensino da Fé da Igreja, devemos ir atrás, buscando complementar com cursos, escolas, formações e direções confiáveis, que possam nos impedir de nos perdermos.

Ah, aqui faço um esclarecimento: não se trata de escolher uma comunidade que eu gosto, de um sacerdote que me satisfaça, mas apenas de encontrar uma comunidade que nos ofereça a verdade da Fé, a clareza da Doutrina, a fidelidade ao Magistério, a beleza da Tradição e a força da Palavra de Deus, afinal, é somente isso que precisamos para que, aos poucos, possamos ir "subindo", até o nosso encontro definitivo, com Deus, no céu.

E então, vamos viver Garabandal?

Que o Bom Deus, pelas mãos imaculadas de Nossa Mãe, abençoe a todos!

Com afeto, orações e minha bênção sacerdotal,

Pe. Viana


Apostolado de Garabandal em língua portuguesa, 2023